O que esperar da economia em 2023? | JValério

O que esperar da economia em 2023?

14/02/2023

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Apesar das incertezas quanto ao cenário econômico e político em 2023, uma coisa é certa: o setor supermercadista é resiliente, forte e possui grande capacidade de se reinventar em meio aos problemas. Mas para que os empresários estejam preparados para o que está por vir, o economista Carlos Honorato Teixeira apontou alguns possíveis cenários para o ano.

O entrevistado é Mestre e PhD em Administração pela FEA-USP, com MBA em Gestão Empresarial pela FIA, com cursos em Cambridge (Reino Unido), Vanderbilt (USA), Lyon (França) e Lingnan (China). Ele é especialista em Economia, Estratégia e Cenários Futuros, Econômicos, Políticos e Tecnológicos.

Teixeira possui uma vasta experiência no universo empresarial com casos trabalhados na EMBRAER, Prati Donaduzzi, Itaipu, ABB, Editora Abril, Alstom, Bayer, Basf, Bradesco, Banco Itaú, Stryker, DSM, entre diversas outras. É CEO do OUTPOD e professor de Pós-Graduação na FIA.

 

O que esperar da economia para 2023? Qual a expectativa para o PIB, inflação, taxa de juros?

Provavelmente teremos um ano de 2023 mais difícil que 2022, por conta principalmente de ser um ano pós-eleitoral, ainda mais com as dificuldades que se mostraram no processo eleitoral e a divisão do país. A boa notícia é que a inflação pode chegar próxima da meta, algo como 5% ou 6%, por conta da alta dos juros, diminuição dos incentivos monetários e diminuição da atividade econômica com algum desemprego. Talvez, caso se crie no novo governo algum programa mais ousado de crédito a pequenos empresários e aumento de renda dos mais pobres, o cenário possa ser um pouco melhor com um crescimento acima de 1%, caso contrário, o mais provável é algo entre 0,5 e 0,7%.

 

Entre os cenários possíveis, qual o mais otimista e qual o mais pessimista?

O cenário otimista seria relacionado a solução definitiva dos problemas internacionais mais agudos – a pandemia e a Guerra da Ucrânia – criando uma perspectiva de negócios mais positiva em todo o mundo e diminuindo a inflação da oferta, especialmente no campo dos combustíveis, energia e recursos minerais. Se no Brasil políticas acertadas de crédito direcionadas a pequenas empresas vingar, as notícias serão boas e podemos entrar em um período de crescimento global e diminuição da pressão inflacionária.

O cenário mais pessimista diz respeito a uma piora grave da Guerra, com saídas radicais com uso de armas nucleares, jogando o mundo em um ambiente de incertezas e aumento do risco de uma guerra mais ampla. Nesse cenário também, aumento de preços de commodities e energia seria contínuo criando péssimas condições para o aumento da inflação global e custos das empresas.

 

E sobre o cenário político para 2023, qual a sua visão, quais as oportunidades e quais os riscos?

Aparentemente as questões políticas tendem a se estabilizar, mas em um nível de beligerância e provocação constante. O governo eleito terá pouco espaço e tempo para fazer o que pretende e precisa para manter a governabilidade e do lado da oposição uma reorganização também pode levar a conflitos e surgimento de outras lideranças em função do enfraquecimento, pelo menos momentâneo, do futuro ex-presidente Bolsonaro.

 

Algum cuidado que os varejistas podem tomar para se prevenir dos riscos?

O cuidado padrão é com endividamento e inadimplência dos clientes. Avaliar possibilidades de dívidas de mais longo prazo com juros menores e apostas em mercadorias que tenham liquidez e giro, são as chaves para evitar que o negócio seja sufocado pela ausência de caixa.

 

Qual a sua perspectiva para o desemprego em 2023? E sobre o poder de compra do consumidor, o que esperar?

Infelizmente minha visão seria de neutra para pessimista. A inflação, o desemprego e por conseguinte o poder de compra deve cair mais um pouco antes de melhorar. É claro que possibilidades de melhora estão no médio prazo, mas a transição entre governos será fundamental para entendermos as possibilidades futuras.

 

Sobre o câmbio e exportação de commodities, qual a sua perspectiva?

Provavelmente não teremos grandes solavancos no câmbio, mas apostar no câmbio sempre é algo bem temerário. Qualquer problema internacional ou crise interna já bate no câmbio. Dificilmente ele cairá abaixo de R$ 4,00 no próximo ano e a tendência maior é de subida, mas como trabalhamos com cenários sempre devemos avaliar um câmbio a R$ 2,00 e um a R$7,00, mesmo que eles não ocorram. Já para commodities agrícolas e agronegócio continuamos com uma tendência de alta e creio que o preço das commodities demorará a cair.

 

Como você acha que será o desempenho das rendas variáveis no Brasil em 2023?

Eles certamente irão variar muito…heheh. Piadas a parte, a bolsa deve sofrer oscilações e impactos de acordo com as políticas do novo governo e como o mercado entenderá o encaminhamento das questões fiscais. A confiança será fundamental e um bom diálogo com congresso e mercado essencial para evitar que a bolsa sofra grandes trancos.

 

Qual a sua perspectiva para o cenário econômico da China, Estados Unidos e União Europeia em 2023?

O mercado internacional continua bastante complexo e crítico. Dúvidas sobre o crescimento americano, inflação e desemprego, assim como resultados da política monetária expansionista serão cruciais. Tanto para os EUA como para a União Européia, a condução da política monetária – aumento e posterior decréscimo dos juros será absolutamente relevante para indicar se esses países conterão a inflação e sairão para o crescimento ou entrarão em um ciclo de recessão e desemprego. A China também vive os mesmos dilemas americanos – de inflação e crescimento econômico, com dúvidas políticas sobre a condução de Xi Ji Ping como líder insubstituível e os riscos de bolhas em ativos, imóveis e mercado financeiro.

 

E sobre o Paraná, especificamente, alguma avaliação ou perspectiva que possa compartilhar?

Creio que o Paraná é muito bem posicionado para atravessar esse período turbulento. A eficiência do agronegócio e das indústrias paranaenses é muito forte e essa ineficiência pode ser transportada para as novas tecnologias e investimento em energia limpa, tecnologia da informação e novos negócios. O Excedente do agro deve migrar para esse contínuo desenvolvimento tecnológico, ocupando espaços em áreas que há muito potencial e possibilidades de desenvolvimento

 

Quais as suas orientações para o setor supermercadista em 2023?

Continuar fazendo o que sempre tem feito: serem dinâmicos, atentos às mudanças, ousados e rápidos na ação e conservadores no caixa.

 

E sobre as tecnologias, qual o cenário e tendências em 2023 para o varejo?

Creio que existem muitas oportunidades, mas o varejista, na minha opinião deve se ater àquilo que tem resultado mais imediato. O Metaverso, por exemplo, ainda não mostrou exatamente a que veio no varejo e requer investimentos altos para tecnologias que não estão consolidadas. Já quando falamos de Inteligência Artificial e Big Data, as tendências são muito mais claras e os resultados também. Logo, o empresário deve se focar naquilo que dá retorno e não em tendências ainda não consolidadas.

 

Qual a importância do varejo ser inovador e como encontrar um equilíbrio neste cenário em que existem muitas tendências ainda embrionárias e especulativas?

Tradicionalmente, o varejo é muito ágil e dinâmico. Acho que a busca de informações e cenários, especialmente os de médio prazo, precisa ser feita e acompanhada. Como eu disse, vale testar sempre e procurar encontrar oportunidades em ações inovadoras que podem efetivamente trazer um retorno e não apenas em tendências vazias. Ser rápido na adoção de inovação, revisão e até mesmo mudança radical é fundamental.

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